Mapeamento registra 239 espécies de aves em área na Serra de Paranapiacaba, em SP
27/12/2024
Pesquisa de campo apontou a presença das espécies saíra-sapucaia e tauató-pintado, que estão ameaçadas de extinção. Tauató-pintado (Accipiter poliogaster) é uma das espécies ameaçadas de extinção
Fabio Schunck
Uma pesquisa fez o primeiro levantamento científico das espécies de aves residentes, endêmicas e migratórias do Vale da Quietude, localizado na Serra de Paranapiacaba, em Ibiúna (SP). Entre os destaques, o trabalho apontou a relevância de modalidades de turismo ecológico, como observação de aves, para gerar renda e fomentar a conservação na área.
O inventário, publicado em dezembro no periódico “Revista do Instituto Florestal”, registrou 239 espécies de aves no local. Contando os registros feitos por observadores de aves postados na plataforma on-line eBird, esse número sobe para 259 espécies.
“A área do Vale da Quietude tem vários tipos de ambientes, tem área bem preservada, área intermediária e área que está em recuperação. Eu achei que a gente ia ver um pouco menos, mas acabamos se surpreendendo e o resultado foi um pouco acima do esperado”, explica o ornitólogo Fabio Schunck, do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, e autor do artigo.
Saíra-lagarta (Tangara desmaresti) registrado na Serra de Paranapiacaba
Fabio Schunck
“Se for feito um estudo mais longo ou se os observadores começarem a visitar a região, esse número pode aumentar bastante”, acrescenta.
Das 239 espécies registradas na área, entre os anos de 2022 e 2023, duas delas estão ameaçadas de extinção: a saíra-sapucaia (Stilpnia peruviana) e o tauató-pintado (Accipiter poliogaster), um tipo raro de gavião florestal.
Tangará (Chiroxiphia caudata) registrado na Serra de Paranapiacaba
Fabio Schunck
A pesquisa de campo foi feita em quatro visitas entre abril de 2022 e agosto de 2023. Cada visita durou sete dias e aconteceu em uma estação diferente do ano para ampliar a variedade de espécies detectadas e suas sazonalidades de ocorrência. Os registros foram feitos em foto e áudio do canto das aves.
A ideia de analisar a avifauna partiu dos proprietários da área, que estavam interessados em saber quais espécies habitavam o local para tentar protegê-las. Segundo Schunck, a literatura científica praticamente não possuía informações sobre as aves da Serra de Paranapiacaba.
Caburé-miudinho (Glaucidium minutissimum) registrado na Serra de Paranapiacaba
Fabio Schunck
“É interessante porque a gente tem mais uma localidade com dados, então quanto mais dados melhor. E a Serra de Paranapiacaba é interessante porque existe uma divisão das espécies de aves. Tem algumas que ocorrem dali pro Norte e outras dali pro Sul. Então esse trabalho foi mais uma pecinha no quebra-cabeça para a gente entender a distribuição delas”, diz.
Pensando em aliar a conservação ao pagamento dos custos do imóvel rural, os proprietários vem estudando a possibilidade de investir em turismo ecológico, construindo acomodações e oferecendo serviços para observadores de aves.
Vale da Quietude, na Serra de Paranapiacaba
Fabio Schunck
Assim, o “catálogo de aves” que vivem ali pode atrair os praticantes da atividade, gerando novas fontes de renda para a região e fortalecendo a preservação da natureza local. “Queremos que a região passe a ser frequentada por observadores de aves, que vão registrar novas espécies e ampliar esse inventário. Esse é um processo contínuo”, diz o ornitólogo.
"Eu acho que mostrar que eh investir em pesquisa pode trazer um retorno muito importante para o proprietário e para as pessoas que observam aves. Então a gente fica torcendo para que realmente o turismo aconteça lá, e tanto o turismo quanto a pesquisas continuem", finaliza ele.
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